O Blog do Pólo Aquático do Fluminense entrevistou três importantes árbitros brasileiros, integrantes da FINA, e ouviu a opinião deles em relação ao nível da arbitragem brasileira e às alterações nas regras. Eles também sugeriram providências que possam favorecer o aumento do número de profissionais atuando. Com vocês, os srs. Roberto Cabral, José Werner e Décio Patelli.
BLOG FLU -> Na opinião de vocês, qual o nível da arbitragem brasileira? Aproveitem e façam uma comparação entre o nível dos nossos árbitros e os lá de fora, em especial dos europeus.
Roberto Cabral: Na minha opinião, é um pouco difícil avaliar uma arbitragem sendo boa, regular , ou ruim. Prefiro dizer que a nossa arbitragem vem melhorando a cada ano, face aos eventos internacionais (incluindo as escolas de árbitros promovidas pela FINA) aos quais hoje temos mais oportunidades em participar. Quanto a comparação aos árbitros "de fora", em certa ocasião, um árbitro não europeu, questionou ao Senhor Lonzi (presidente do comitê técnico de pólo aquático da FINA), se o mesmo não arbitrava suficiente bem para atuar em jogos importantes. Foi perguntado ao árbitro se ele era um bom motorista, no que ele respondeu afirmativamente. E se eu lhe der uma Ferrari para dirigir, sem você estar acostumado, você acha que seu desempenho seria o mesmo? É aí que está a diferença.
BLOG FLU -> No Brasil muito se fala que temos poucos árbitros, que são sempre os mesmos, e que isso causa um desgaste muito grande a todos. Qual a opinião de vocês sobre esse comentário? E qual a sugestão para aumentar o número de árbitros em ação?
Roberto Cabral: Estou completando no próximo ano, trinta anos de arbitragem e consigo contar nas duas mãos o número de árbitros que passaram por aqui. Infelizmente a maioria sofreu com a impaciência de dirigentes, técnicos, jogadores e torcedores e, tiveram a sua trajetória abortada. Não se prepara um árbitro em menos de cinco anos (se ele tiver talento), e para isto é necessário que ele já tenha tido alguma experiência no esporte. A única sugestão seria recrutar ex-jogadores para treinamento, mas, a esta altura quem vai querer sair da cômoda situação de pedra, para ser vidraça?
BLOG FLU ->Sabemos que os árbitros têm outras atividades profissionais. Mas, na opinião de vocês eles também não deveriam treinar? Apitar alguns treinos nos clubes, ou coletivos da seleção Brasileira?
Roberto Cabral: Acho muito importante, e quem como você, acompanhou a minha carreira, sabe quantos treinos eu apitei. Mas acho também que nos treinamentos em clubes, a participação do técnico no quesito disciplina, tem que ser levado com seriedade.
Décio Patelli: Acho fundamental que os árbitros sempre estejam em atividade. O que ocorre às vezes, é que, como muitos têm outras profissões fica mais difícil esse contato com o dia-a-dia. Mas seria muito bom se todos tivessem a oportunidade de apitar treinos nos clubes e mais ainda treinos da seleção.
BLOG FLU -> Vocês três são árbitros internacionais, com experiência em eventos importantes, e sabem que em competições internacionais existe a figura do avaliador. O que vocês acham de se ter aqui no Brasil também? Existem pessoas preparadas para executar tal função?
Roberto Cabral: A questão do avaliador é muito complicada. É evidente que é necessária, mas para isto, teríamos que qualificar um grupo de pessoas e treiná-las com conhecimento de regras em toda a sua complexidade (critérios utilizados internacionalmente). Hoje esta função é exercida nos Campeonatos Nacionais pelo supervisor de pólo aquático da CBDA, Sr. Ricardo Cabral.
José Werner: Na verdade, essa figura existia de maneira informal através do Cabral árbitro e, algumas vezes do Ricardo Cabral durante os jogos da CBDA. Com a efetivação definitiva do Roberto Cabral como coordenador de arbitragem da CBDA isso vai se tornar mais freqüente. Acho fundamental a existência do avaliador, porque ele está ali não para "acabar" contigo, mas, sobretudo, opinar sobre situações que muitas vezes nos passam despercebidas e saber por que aplicamos tal regra naquela situação específica. Já fui avaliado em campeonatos internacionais por alguns dos mais importantes membros do TWPC (Comitê Técnico de Water Polo) da FINA e a política deles é cooperar com os árbitros e ajudá-los a melhorar seu nível. A presença do avaliador na beira da piscina faz você se concentrar mais no jogo para não errar.
BLOG FLU -> Na avaliação de vocês, qual é o nível de conhecimento das regras por parte dos técnicos e jogadores brasileiros?
Roberto Cabral: Infelizmente tenho a opinião que, somente 10% dos técnicos nacionais têm conhecimento total, 20% com conhecimento suficiente e o restante com conhecimento básico, o que é muito pouco para se tirar algum proveito na tática do jogo.
José Werner: Acredito que muito baixo, porque vejo técnicos na beira da piscina fazendo perguntas sobre situações tão óbvias que penso que estão brincando. Por outro lado, como não conhecem as regras de forma clara, não podem ensinar aos atletas o que fazer ou não. São poucos os treinadores e jogadores que conhecem a regra no que ela tem de mais importante.
Décio Patelli: Acho que o nível de conhecimento dos técnicos em geral é bom, embora me surpreenda algumas vezes com alguns. Os jogadores com raras exceções, não têm um conhecimento das regras do jogo.
BLOG FLU -> O Brasil tem sete árbitros no quadro da FINA, esse número não é superado por nenhum outro país. Vocês não acham que é um número alto em relação à posição do Brasil no Ranking Internacional?
Roberto Cabral: A indicação do número de árbitros para o quadro da FINA, é dada em função da participação do Brasil em relação à quantidade de competições internacionais promovidas pela FINA.
José Werner: Acho, mas é uma questão política e não me cabe analisar o mérito da questão. Em termos de Américas (Central, Sul e Norte) e Austrália, somos melhores. Estamos, portanto, abaixo dos europeus, que apitam praticamente o ano inteiro jogos de diversos campeonatos e torneios, com os melhores jogadores do mundo e vão sempre ser os melhores porque convivem com os melhores. Dos 7 árbitros, a FINA indicou 3 (Patelli,Cabral e eu) como árbitros neutros, o que nos permite atuar em competições onde o Brasil não esteja presente. Isso é bom para nosso esporte porque a FINA reconhece a qualidade de nossa arbitragem e nos permite presenciar e apitar jogos do mais alto nível, melhorando com isso o nosso nível também.
Décio Patelli: Sete é o número máximo de um país. Acho que pela qualidade da arbitragem do Brasil isso pode se dizer que é uma grande conquista.
BLOG FLU -> Que opinião vocês têm sobre as últimas mudanças na regra? (inclusão dos 5m, redução para 30s de posse de bola, quartos de 8m etc.) Facilitaram a arbitragem, sim ou não, por quê?
Roberto Cabral: Tive a oportunidade de participar de uma reunião para discutir as modificações da regra em 2004, e posso afirmar que as novas regras, tanto o tiro livre direto ao gol, quanto aos 30 segundos, foram implantadas para dar um dinamismo maior no televisionamento dos jogos, aumentando a velocidade e números de gols por partida. A maior diferença para mim, foi em relação aos contra-ataques, principalmente com a saída de bola do goleiro (tiro de gol), o que força ao árbitro uma atenção redobrada.
José Werner: A vida do árbitro nunca é fácil e as alterações das regras foram para tornar o jogo mais disputado e atraente para o público, antes de qualquer coisa. Ninguém quer ver expulsão, homem a mais, ou retranca e sim gols. Por isso, a mudança foi positiva. Uma coisa que percebi é que o nosso nível de atenção teve que aumentar sensivelmente, porque o jogo ficou muito rápido, as jogadas passaram a ser mais objetivas e a aplicação da regra, claro, tem que ser ainda mais rápida. No pólo, uma modalidade considerada a 2ª mais difícil de se aprender pelo Instituto Internacional de Educação Física, todos são inteligentes e os árbitros têm que ser os mais inteligentes. Sempre.
Décio Patelli: Acho que as mudanças foram importantes, tentamos os sete metros, descobrimos que ainda era distante para o tiro livre direto, a partir dos 5m os gols aumentaram. Com relação ao tempo de posse de bola acho que o jogo ficou mais veloz e menos violento (no geral). Com relação ao tempo de jogo foi importante a mudança, isso porque o público pode ir a piscina e ficar mais tempo assistindo a partida acho que era muito rápido a duração do jogo. Acho que a nossa vida ficou mais fácil com certeza.
BLOG FLU -> Quais as expectativas de vocês em relação à arbitragem do PAN?
Roberto Cabral: Quem teve a oportunidade de assistir ao último pré-mundial, vai rever os mesmos árbitros que aqui estiveram inclusive com o árbitro espanhol como neutro que, sem dúvida alguma, é o mais experiente. Os brasileiros serão o Werner e Patteli.
José Werner: Depende dos árbitros que as respectivas federações enviarem. Conheço quase todos os árbitros das Américas e acredito que o nível seja o mesmo da última Copa Uana (Pré-Mundial) em outubro passado.
Décio Patelli: Bom eu espero sinceramente que, tenhamos uma boa arbitragem durante o PAN, já tenho a lista dos árbitros: temos bons nomes e gente nova. Acho que vai ser bom.
BLOG FLU -> Finalizando, gostaríamos de agradecer a atenção e colaboração de vocês e desejar aos três e a todo corpo de arbitragem uma boa temporada. Peço, ainda, que deixem uma mensagem para o Pólo Aquático Brasileiro.
Roberto Cabral: Quero parabenizar o blog, pela iniciativa de colher informações de um segmento de grande importância do pólo aquático que é a arbitragem.
José Werner: Que todos aprendam as regras do nosso esporte, torçam pelo Brasil no Pan e se dediquem a ajudar esse esporte tão especial da maneira mais clara, honesta e positiva possível. Agradeço a oportunidade de expressar minhas opiniões e me coloco à disposição para esclarecer quaisquer dúvidas que tenham a respeito da regra e/ou de qualquer outro assunto. Um grande abraço.
Décio Patelli: Mais uma vez obrigado pela oportunidade, e para o pólo brasileiro digo: PLANEJAMENTO, ORGANIZAÇÃO E OBJETIVO A SER ALCANÇADO sem isso nunca superaremos ninguém.
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