Aladar Szabo nasceu na Hungria, em 15 de março de 1933, na cidade de Eger. Seu pai, que tinha o mesmo nome, era militar; sua mãe, Petheo Irene, dona-de-casa. O pai queria que ele fosse padre; a mãe, que ele fosse pianista. Porém nenhuma dessas intenções foi acatada por Szabo. Quando saía do seminário não ia para a casa da professora de piano; fugia e ficava nadando por seis horas no clube. Aos 17 anos abandonou o seminário, e logo depois as aulas de piano, mas da piscina nunca mais conseguiu se afastar. Já era então campeão europeu de natação, recordista juvenil com 57.8s nos 100 metros nado livre. E integrava a equipe húngara de sênior, no revezamento 4 x 100.
Jogando Pólo Aquático em seu time, o Vasas, desde os 15 anos começou a se apaixonar pelo esporte. Em 1952, devido aos seus potentes chutes, foi convocado como reserva da seleção húngara, que se sagrou campeã olímpica, e integrou o revezamento 4x200 livre. Logo ele iria firmar-se na equipe húngara, onde atuou de 1952 a 1956, ainda na categoria júnior que corresponde ao jogador ter entre 18 e 19 anos.
Ao deixar a Hungria, devido a problemas políticos que aconteciam naquele país Szabo fugiu para a Itália, onde encontrou uma equipe de Pólo Aquático em ascendência, tanto que havia sido Medalha de Ouro em Londres (em 1948) e iria sagrar-se campeã olímpica também em Roma (em 1960). Outro fator que o levou a escolher a Itália teria sido a peculiar alegria de seu povo, como afirma Eduardo Abla (ex-jogador de Pólo Aquático e amigo de Szabo), em sua entrevista.
Em reportagem publicada no Jornal da Tarde de 20 de abril de 1972, o próprio Szabo relata o momento da fuga: “estava no saguão do Hotel Parker, em Nápoles, corri para a porta giratória e pulei na cabine de um caminhão que já me aguardava”.
Na Itália, atuou no Rari Nantes, de Nápoles, e tornou-se atração do Pólo Aquático local. Jogou as temporadas de 1957 e 1958, e por seu desempenho recebeu convites de diversos outros países para neles atuar como jogador. Também a CBD (Confederação Brasileira de Desportos) o convidou, por intermédio de João Havelange, ex-jogador do Fluminense e integrante da seleção brasileira nos Jogos Olímpicos de Helsinque, em 1952. Havelange, por nós entrevistado, relatou que ouvira falar de um excelente jogador húngaro que estava atuando na Itália; ele nunca havia assistido Szabo jogar, mas tinha interesse em trazer alguém que pudesse enriquecer o Pólo Aquático do Fluminense.
De acordo com Eduardo Abla, Szabo teria vindo para o Brasil por ter se envolvido em uma briga de trânsito com o delegado da cidade de Nápoles . Vendo a possibilidade de ser preso, preferiu sair da Itália. A escolha de nosso país se deu em função de ter ouvido falar dos predicados do povo brasileiro (um povo alegre, belas mulheres, carnaval) e por ter visto Garrincha atuar, na Hungria. E, realmente, o Botafogo realizou muitas excursões pela Europa na década de 50. Ruy Castro, em seu livro Estrela Solitária: um brasileiro chamado Garrincha (1995), confirma que o Botafogo jogou na Hungria, no dia 22 de abril de 1956, contra um time local chamado Honved-Kimitz – que, curiosamente, venceu de goleada o time da “Estrela Solitária”, com Mané Garrincha e tudo, por 6 a 2.
No jornal O Globo de 30 de maio 1959, Szabo declarou que, além do Brasil, havia recebido convites para dirigir equipes de Pólo Aquático na Grécia, na Índia e na Tunísia; mas dois amigos seus, Vinícios e Del Vecchio, jogadores de futebol da equipe do Nápole, falavam tantas maravilhas sobre as belezas do Brasil que Szabo optou por aceitar seu conselho e vir para cá.
Nessa mesma entrevista a O Globo, Szabo explica por que resolveu sair da Itália: uma lei italiana impedia que jogadores estrangeiros atuassem nas equipes esportivas locais; como tirar outro visto demoraria alguns meses, e obter uma naturalização levaria cinco anos, preferiu ir para outro país.
Observe-se as discordâncias entre as narrativas de Eduardo Abla e de Szabo. Os motivos da preferência de Szabo pelo Brasil, como descritos por Abla, talvez demonstrem a tentativa de mostrar a atração de um europeu por traços da cultura brasileira, que no caso estaria representada pela alegria, pelo carnaval e pelas belas mulheres. Tais peculiaridades na personalidade de Szabo vão ser narradas por muitos dos nossos entrevistados; se não são verdadeiras, possivelmente ajudaram a criar a imagem de um homem estrangeiro com “espírito brasileiro”, tornando-o simpático mesmo para aqueles que não o conheceram.
Aladar Szabo chegou ao Rio de Janeiro em 1959, pelo navio “Conte Grande”, sendo recebido por Edson Perri, que futuramente seria seu técnico na seleção brasileira e no Botafogo. Na entrevista que nos concedeu, Perri revelou que acreditava que Szabo veio com a intenção de não voltar, devido à quantidade de malas que trouxe. Perri foi obrigado a chamar um táxi, pois as malas todas não couberam em seu carro.
Mais tarde Szabo foi apresentado ao Fluminense, que detinha a melhor equipe de Pólo Aquático da época. Szabo deveria apenas dirigi-la; porém, devido à sua exemplar forma física, acabou por integrá-la como jogador, permanecendo em Laranjeiras( sede do Fluminense) de 1959 a 1961.
Alazar Szabo e o Pólo Aquático no Brasil
Cabe registrar como se encontrava o panorama esportivo do Pólo Aquático no Rio de Janeiro, no momento da chegada de Szabo ao Brasil. O Fluminense F. C. havia montado um time que por diversos anos dominou a história do Pólo Aquático brasileiro: de 3 de fevereiro de 1952, com a vitória sobre a Associação Desportiva Floresta, até o dia 21 de outubro de 1961, quando foi derrotado pelo Botafogo por 2 x 0.
Diversos jornais acompanharam a trajetória tricolor nesse período, principalmente dando cobertura ao fatídico jogo de outubro de 1961 entre Fluminense e Botafogo, encerrado prematuramente depois que a equipe do Fluminense deixou a piscina por sentir-se prejudicada pelo árbitro da partida, Almerídio Brandão. Através de recortes de jornais pertencentes aos acervos particulares da família Szabo e de alguns de nossos entrevistados, foram levantadas as seguintes reportagens (alguns dos recortes não traziam o nome do periódico ou a data da publicação):
“Botafogo quebrou invencibilidade do Fluminense: jogo não acabou – Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 22 out. 1961.
“Water-Pólo: 2 x 0 Botafogo acabou com reinado do tricolor” – Última Hora, Rio de Janeiro, 23 out. 1961.
“Primeira derrota tricolor em nove anos” – O Globo, Rio de Janeiro, 23 out. 1961.
“Tempo quente no Guanabara” – [s.n., s.d].
“Vitória sensacional” – O Globo, Rio de Janeiro, [s.d.]
“Depois de nove anos, perde o Fluminense” – [s.n., s.d.].
Muitas outras reportagens encontradas pontuam algumas das 104 partidas em que o Fluminense ficou sem perder, infelizmente sem trazer a data e/ou o nome do periódico:
“Flu é Hepta no Pólo Aquático” – [s.n., s.d].
“Campeão pela nona vez o Fluminense” – [s.n., s.d.].
“Flu conseguiu 86ª vitória e o Vice-campeonato” – [s.n., s.d.].
“Campeão invicto o Fluminense F. C. com 86 partidas” – [s.n., s.d.].
“87 partidas invictas” – [s.n., s.d].
“Flu completou 91 jogos invictos” – [s.n., s.d.].
“Fluminense tenta o penta-campeonato” – Jornal dos Sports, Rio de Janeiro, [s.d.].
“Tentará amanhã o Fluminense sua 100ª partida invicta” – [s.n., s.d.].
“Invicto em 101 jogos e penta-campeão do Rio São Paulo o Fluminense” – [s.n., s.d.].
Equipe do Fluminense bi-campeã carioca invicta de 1953-1954
Como vemos, espaço na mídia o Pólo Aquático tinha, pois todas essas reportagens, colhidas nos acervos particulares da família Szabo e de alguns de nossos entrevistados, possivelmente não correspondem ao total de matérias que circularam sobre o assunto na época.
Everardo Cruz Filho (ex-atleta de Pólo Aquático e integrante da seleção brasileira de 1952) participou da equipe do Fluminense no período em questão, e comenta que um outro fator importante para a hegemonia do time foi a influência do treinador italiano Paolo Costoli, que trazia em sua bagagem uma enorme experiência em esportes aquáticos. Graças a Costoli, os métodos de treinamento, a tática, a técnica, enfim, o estilo de jogo, foram completamente alterados. Outros exemplos das novas formas de treinamento introduzidas por Costoli foram os treinos com bola simulando situações de jogo, e a aproximação do Pólo Aquático com a natação. Anteriormente, nada disso era feito; os treinamentos eram praticamente reduzidos aos treinamentos em conjunto: “coletivos”.
Sob o comando de Costoli, o Fluminense era um time rápido, de muita movimentação e arremessos. Antes dele, os arremessos eram em “gancho”, infinitamente inferiores se comparados aos arremessos de hoje (semelhantes aos de handebol). Essas contribuições de Costoli foram de grande importância não apenas para o Fluminense; posteriormente, outros clubes acabaram também por incorporá-las.
Além dos resultados dos campeonatos cariocas, alguns deles registrados nas reportagens acima apresentadas, onde a equipe do Fluminense permaneceu invicta de 1952 a 1961, obtendo o primeiro lugar e sendo o time que mais títulos conquistou até hoje, outro fato nos ajuda a evidenciar o destaque do Pólo Aquático do Fluminense naquela época: na constituição da seleção brasileira, por volta de 1952, com a exceção de Hilton de Almeida, jogador do Vasco da Gama, todos os outros atletas eram do Fluminense.
9 comentários:
parabéns ao Silvio e ao blog pela matéria!!!
Texto digno de um técnico aristocrático, como manda a tradição tricolor...
Parabéns
O que falta pro Silvio publicar esse livro logo?
Quem conhece todo o teor do livro do Silvio como eu, realmente torce para que ele consiga publicá-lo. Aliás, tricolores ilustres porque não o ajudar nesta empreitada? Valeu Silvio meu irmão
eu li varios textos do livro e realmente é muito legal. bem sou fã da história dos esportes e atualmente de WP. mas acho q dessa vez vai sai´r. o negócio é torcer.
Parabéns pelo livro. Tive o previlégio de ser treinado por Szabo em 1970 (S.E. Palmeiras) e de 1971 a 1975 no Clube Athlético Paulistano, além de trabalhar como professor de natação na Escola de Natação Sanacqua (que era de propriedadec dele). Também passei pelo triste momento quando fui o primeiro a ser informado de sua morte repentina em 12 de outubro de 1982 (havíamos tido uma reunião no dia anterior). Fico feliz que ele tenha sido lembrado por você em seu livro.
Eduardo Kezerle
Sei que meu comentário é tardio... Mas não posso deixar de fazê-lo! Silvio parabéns pela Tese, foi com muito prazer que emprestei todo o arquivo que guardo sobre meu pai. E será com o mesmo prazer que disponibilizarei para qualquer pessoa que queira registrar a história dele e do WP no Brasil e no mundo!
Isabella Szabo
Caros,
Encontrei um artigo do JB sobre a conquista do Rio-SP de Water Polo de 1982 pelo Fluminense, nesse link:
http://news.google.com/newspapers?nid=0qX8s2k1IRwC&dat=19770606&printsec=frontpage
A matéria está na página 15. São citados nomes de jogadores, como George, Ricardinho e Perrone. Espero que seja útil.
Saudações Tricolores,
PC
Corrigindo: Rio-São Paulo de 1977.
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